Introdução ao MBTI

Diego Sotelo
11 min readFeb 12, 2020

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Vc ouve falar de MBTI mas não entende oq as pessoas estão dizendo?

O MBTI é muito interessante, sua compreensão pode ajudar muito no seu processo de autoconhecimento e nas suas relações pessoais, por isso eu quero apresentar aqui uma introdução ao MBTI, tentei ser o mais didático possível, mesmo assim, algumas questões podem parecer um pouco complicadas num primeiro momento, mas aconselho que vcs insistam, vale muito mais a pena do que essas descrições genéricas de tipos que vcs encontram por ai na internet, pois o MBTI não funciona nada bem como um guia de descrição do comportamento, mas como um mapa para o funcionamento da psique.

Dividi em 6 capítulos, os quais eu, originalmente publiquei no grupo INFJ Brasil, se vcs quiserem uma explicação totalmente fiel a Jung, leiam Jung, mais precisamente o livro Tipos Psicológicos.

Lembrando que isso é apenas uma introdução, para que vocês possam se familiarizar com os principais termos do MBTI.

Parte 1: As 4 Funções Originais E Suas Letras

Segundo a teoria Junguiana, existem dois tipos de funções, as funções de Julgamento, simbolizadas pela letra J e as funções de Percepção, simbolizadas pela letra P, prestem atenção nessas letras, elas serão importantes mais pra frente.

As funções de Percepção são também consideradas funções irracionais, essas funções tem o papel de perceber o mundo, elas são como a porta de entrada da sua psique. São duas funções irracionais ou de percepção, correspondente a dois modos de perceber o mundo, um modo direto e outro indireto.

O modo direto é chamado de Sensação, simbolizada pela letra S, ela se foca nos 5 sentidos, no mundo sensorial. O modo indireto é a Intuição, simbolizada pela letra N (A segunda letra de iNtuition), ela se afasta dos 5 sentidos para perceber o mundo de forma abstrata. Uma função irracional tende a anular a outra.

As funções de Julgamento são também consideradas funções racionais, essas funções tem o papel de julgar aquilo que já foi percebido anteriormente. São duas funções racionais ou de julgamento, correspondentes a dois tipos de juízo, os juízos de valor e os juízos de realidade.

O juízo de valor corresponde a função Sentimento, simbolizada pela letra F (primeira letra de Feeling), ela move os processos afetivos. O juízo de realidade corresponde a função Pensamento, simbolizada pela letra T(primeira letra de Thinking), ela move os processos lógicos. Uma função racional tende a anular a outra.

Parte 2: Funções Introvertidas vs Funções Extrovertidas

Agora vamos falar de Introversão vs Extroversão, esses dois termos já são familiares, mas aqui é preciso lembrar que Introversão não é sinônimo de timidez ou isolamento, nem extroversão é sinônimo de tagarelice ou de comportamento desinibido.

Introversão aqui significa estar de costas para o objeto externo e voltado para a própria psique, a Introversão é simbolizada pela letra I. Extroversão aqui significa estar de costas para a própria psique e voltado para o objeto externo, a Extroversão é simbolizada pela letra E.

Cada uma das 4 funções pode ser dívida em duas, uma Introvertida e outra Extrovertida, então teremos 4 funções Introvertidas e 4 funções Extrovertidas, somando então as 8 funções descritas por Jung.

No momento, só passaremos por estas funções de forma superficial, espero que no futuro possamos ir um pouco mais a fundo nesses conceitos. Qual seria basicamente a diferença entre as funções introvertidas e as funções extrovertidas?

Pense em um Smartphone e um PC de Mesa/Desktop, o Smartphone liga mais rápido, é extremamente fácil de transportar, cabe na mão, mas a sua capacidade de processamento é muito mais limitada, enquanto o Desktop tem as vantagens e as desvantagens opostas.

As funções extrovertidas são mais ágeis e mais aplicáveis enquanto as funções introvertidas são capazes de realizar processos mais complexos.

A Intuição Introvertida, simbolizada por Ni, é uma função poderosamente abstrata, a mente da pessoa faz uma radiografia do mundo, mas ela fica sem saber oq fazer com essa radiografia, já a função Intuição extrovertida, simbolizada por Ne, não consegue trabalhar com abstrações tão complexas, mas consegue aplicar suas abstrações a casos concretos, com rapidez e facilidade.

A Sensação Introvertida, simbolizada por Si, é uma função que conhece o mundo físico intimamente e que consegue lidar com o próprio corpo e seu próprio ânimo com maestria, já a função Sensação Extrovertida, sabe interagir melhor com o mundo concreto, sabe contagiar o ânimo das pessoas que estão a sua volta com facilidade.

O Pensamento Introvertido, simbolizado por Ti, é uma função minuciosamente lógica, essa função organiza as informações com precisão, como quem monta um quebra-cabeça. Já o Pensamento Extrovertido, simbolizado por Te, não é tão minucioso, sua lógica tende a ser mais rude simplista do que a lógica Ti, mas a função Te é capaz de lidar com a lógica do mundo, de controlar àquilo que está a sua volta de forma estratégica, enquanto o Pensamento Introvertido é muito pouco prático.

O Sentimento Introvertido, simbolizado por Fi, tem maestria nas sutilezas do afeto, ele consegue detectar pequenas diferenças entre emoções, mas tem muita dificuldade de transmitir isso pra quem está a sua volta, já o Sentimento Extrovertido, simbolizado por Fe, não é tão sensível, sente o mundo com mais simplicidade, mas consegue lidar muito bem com as emoções alheias, comunicar isso pras pessoas e até consegue ter algum controle sobre o ambiente afetivo a sua volta.

Parte 3: A Função Dominante e a Inferior

Agora lembramos que, em cada psique, espera-se que uma função assuma o papel de dominante, ou seja, essa função será o carro-chefe do desenvolvimento psíquico da pessoa, a base do ego, toda a estabilidade psicológica da pessoa depende disso.

Mas aonde existe uma função dominante existe também uma função inferior, ou seja, uma outra função oposta a função dominante, que agirá na periferia da personalidade, enquanto a função dominante age no centro.

Pensemos, por exemplo, na função Intuição Introvertida (Ni), se ela domina a personalidade com suas abstrações internas, a tendência é que a conexão direita com o mundo concreto, com os aspectos sensoriais seja prejudicada, a percepção indireta, que é a Intuição(N), tem como seu oposto a percepção direta, que é a Sensação(S), se a personalidade tem a Intuição Introvertida(Ni) no seu centro, na periferia teremos a ação da Sensação Extrovertida(Se), se fosse a Intuição Extrovertida(Ne) no centro, teríamos a Sensação Introvertida na periferia(Si), pq é esse o princípio, sempre que houver uma função Introvertida(I) no centro haverá uma Extrovertida(E) na periferia e vice-versa.

Do mesmo modo que Intuição(N) e Sensação(S) são opostas entre si, Pensamento(T) e Sentimento(F), funções de julgamento, também são opostas entre si. Sendo assim teremos os seguintes pares de oposição:

Intuição Introvertida (Ni) vs Sensação Extrovertida(Se)

Intuição Extrovertida (Ne) vs Sensação Introvertida (Si)

Pensamento Extrovertido(Te) vs Sentimento Introvertido(Fi)

Pensamento Introvertido(Ti) vs Sentimento Extrovertido (Fe)

Depois falaremos sobre esses 4 pares, mas é elementar lembrar que sempre que uma função do par estiver como dominante, a outra estará como inferior. E o conceito de função inferior é essencial pra entender essa tipologia.

Parte 4: A Função Inferior e a GRIP

No capítulo anterior falamos da função dominante, que fica no centro da personalidade e da função inferior que fica na periferia da personalidade, mas existe ai uma complicação.

Existem duas propriedades do centro da personalidade que precisam ser pensadas, a primeira é quanto mais centralizada a função está, maior a chance dela ganhar consciência e se desenvolver, mas existe também um preço, quanto mais a função monopolizar o centro da personalidade, mais ela vai perder energia.

Na periferia acontecerá o oposto, quanto mais tempo a função ficar marginalizada, menos ela se desenvolverá, mas maior será o acúmulo de energia da função.

Com o passar do tempo é muito provável que uma situação se apresente, a função dominante, após passar muito tempo monopolizando a personalidade, chega a um ponto de esgotamento, enquanto a função inferior chega a um ponto onde ela fica sobrecarregada de energia psíquica, o resultado desse quadro será a GRIP.

Geralmente, uma pessoa constrói sua vida em torno da função dominante, as pessoas escolhem sua profissão, sua relação afetiva, suas escolhas políticas e religião, seus amigos, suas roupas, a decoração da casa, os hábitos… Em tudo isso existe uma forte influência da função dominante, em tudo isso existe pouca influência da função inferior.

Até que um dia ocorre a GRIP, a função inferior invade o centro da personalidade e bagunça todo esse mundo que havia sido construído até então.

Penso num Ni(Intuitivo Introvertido) que do dia pra noite tem o seu ego invadido pela Se(Sensação Extrovertida)… Até então ele tinha construído sua vida em volta de percepções abstratas, envolvido com arte, ciências humanas, espiritualidade… De repente ele começa a se enfadar daquilo que sempre lhe interessou e começa a sentir um interesse radical por perfumes, roupas, comidas, velocidade, smart talk, baladas, bebida, drogas, sexo casual e etcs… Uma pessoa que era desapegada em suas relações passa a se apegar, uma pessoa que era séria, passa a zuar os outros…

Isso pode acontecer com um Te dom(Pensamento Extrovertido) que sempre foi frio e objetivo de repente fica sentimental e melindroso por causa da GRIP Fi(Sentimento introvertido), ou pode acontecer o oposto… Um Se dom, sempre leve, que fica paranoico por causa da GRIP Ni, ou um um Fi dom, tão amável, que fica agressivo por causa da invasão da Te inferior.

A GRIP costuma ser bastante dolorosa pro indivíduo, uma vez que ele já não se reconhece mais, se sente arrastado por uma parte estranha e infantil de si mesmo, tem que lidar com contradições pesadas dentro de si, mas logo a função inferior gasta a energia excedente e as coisas vão voltando ao normal, pelo menos provisoriamente…

Existem certos detalhes e variações desse fenômeno que eu vou deixar de fora, a intenção aqui é oferecer apenas uma introdução.

Parte 5: Auxiliar, Terciária e Loop

Nos capítulos anteriores nós falamos sobre a dinâmica entre a função dominante e a função inferior, mas entre os extremos da dominante e da inferior existem duas funções intermediárias: a auxiliar (ou secundária) e a terciária.

Pense que o ego é um estado, a Função Dominante seria o partido da situação, digo, o partido do presidente, que está lá, sempre com o governo. A Função Auxiliar seria aquele partido aliado que pega muitos cargos e quase sempre apoia o governo. A Função Terciária seria aquele partido que tem poucos cargos, que desconfia bastante do governo, mas de vez em quando apoia o governo em algumas questões pontuais. A Função inferior seria aquele partido de oposição que não tem cargo nenhum no governo e vota sempre contra, em muitos casos, uma oposição bastante encardida, que tenta dar o golpe por vias militares, naquilo que anteriormente chamamos de GRIP.

Não sei se vcs já notaram, mas geralmente, numa chapa presidencial, o vice costuma ser uma figura que complementa o candidato a presidente, se o presidente é do sul do país, o vice é do norte, se o presidente é homem o vice é mulher.

Do mesmo modo, a Função Auxiliar sempre complementará a Função Dominante, se a função dominante for Julgamento, a função auxiliar será Percepção, se a função dominante for Introvertida, a função auxiliar será Extrovertida, em ambos os casos o oposto tbm será válido.

Então, se a função dominante for a Ni(Intuição Introvertida) a função auxiliar só poderá ser a Fe(Sentimento Extrovertido) ou a Te(Pensamento Extrovertido), pois estas são as duas funções que melhor complementam a Dominante.

A Função Terciária será sempre a função oposta à Função Secundária, assim como a Função Inferior é oposta à Função Dominante, ou seja, se a Auxiliar for a Te, a Terciária será a Fi, se a Auxiliar for a Fe, a Terciária será sempre a Ti. Tá complicado? Calma, depois a gente volta aqui e explica melhor.

Quando a Função Inferior entrar em disputa com a Função Dominante, teremos a GRIP, quando a disputa se der entre Função Auxiliar e terciária, teremos o Loop

O Loop não gerará tanta instabilidade quanto a GRIP, pelo mesmo motivo que trocar um vice-presidente não gera tanto distúrbio quanto trocar um presidente, pq a GRIP ameaça as bases do Ego, o Loop não.

No Loop teremos uma substituição temporária da Secundária pela Terciária, o grande problema dessa substituição é que reforçará a introversão do introvertido, pois se a Dominante é Introvertida, a Terciária tbm será, isso pode levar o introvertido a perder, por um certo tempo, a conexão com o mundo externo que até então era conferida pela Função Auxiliar, o mesmo acontecerá com o extrovertido que perderá o contato consigo mesmo conferida pela Função Auxiliar introvertida.

Tomemos como exemplo o INFJ, que tem a Fe como Auxiliar e a Ti como Terciária, quando a Ti eclipsar a Fe, o INFJ se tornará menos sensível, perderá a forte conexão afetiva que possui com o mundo a sua volta e passará a ser atraído pelos próprios pensamentos, uma fixação intelectual na qual ele passará longos períodos tentando decifrar as abstrações confusas de sua própria intuição.

Parte 6: E as 4 Letrinhas, qq Significam?

A primeira letra fala se a função dominante é Introvertida (I) ou extrovertida (E), simples.

A segunda letra fala sobre o eixo da percepção, quem é mais forte na hierarquia da psique, se é a intuição(N) ou a sensação(S), aquela que for mais forte será dominante ou auxiliar, a mais fraca será terciária ou inferior. No caso do tipo INFJ, como a dominante é a Intuição introvertida (Ni), a segunda letra acaba sendo a letra N.

A terceira letra fala sobre o eixo do julgamento, quem é mais forte na hierarquia da psique, se é a função pensamento (T) ou se é a função sentimento (F), aquela que for mais forte será dominante ou auxiliar, a mais fraca será terciária ou inferior. No caso do tipo INFJ, como a auxiliar é o sentimento extrovertido(Fe), a terceira letra acaba sendo a letra F.

A quarta e última letra é uma coisa um pouco mais complicada… Ela vai falar sobre qual eixo prevalece, se é o eixo do julgamento(J) ou o eixo da percepção(P), mas como definir qual é o eixo determinante? Bem o MBTI deu uma resposta um pouco controvertida pressa questão… No caso dos tipos extrovertidos o MBTI levará em conta a função dominante, se a função dominante for Julgamento (sentimento ou pensamento), a última letra será o J, indicando que aquele é um tipo julgador, se a função dominante for Percepção (intuição ou sensação) a última letra será o P, indicando que aquele é um tipo perceptivo, até ai tudo certo… Mas com os tipos introvertidos a referência deixará de ser a função dominante para ser a função auxiliar, ou seja, no MBTI será sempre a função extrovertida mais forte que determinará se o tipo é J ou P, então, se a função auxiliar for sentimento ou pensamento, o introvertido será J, apesar da sua função dominante ser perceptiva, se a função auxiliar for intuição ou sensação, o introvertido será P, apesar da sua função dominante ser julgadora. Nesse aspecto o MBTI é diferente do socionics, que sempre levará em conta a função dominante, por isso, muitas pessoas que são INFJ no MBTI, acabam sendo INFP no socionics.

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Written by Diego Sotelo

Diego é ingênuo e acredita na capacidade humana de compreender as coisas.

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